sexta-feira, 10 de março de 2017

Sedenta agonia


É uma condição existencial saciada apenas por meio do gole - ou vários dele. Pode ser sutil, mas pode ser também desesperador. Violento, irracional, biológico, selvagem. Demonstra uma necessidade básica, latente, urgente, explosiva. Quando se está em abstinência ou os intervalos dessa dose são maiores do que se é possível suportar, há efeitos colaterais alucinantes. A razão realmente já não existe mais, dá lugar à busca inquieta e incessante pelo sabor que lhe escorra à garganta gentilmente e na temperatura certa. Estar num deserto labiríntico como esse só pode levar qualquer um à loucura. É de se clamar para que caía pelo menos do céu algumas gotas, pingos ou flocos salpicados que expulsem sem compaixão alguma essa tirana agonia. E no momento que o delírio me fizer cair e silenciar o último som que me restaria... Que eu caia em teus braços! Porque assim, ainda posso eu te pedir por toda a sede existente em cada célula em mim: - Dá-me de beber, meu amor! Dá-me do teu próprio paladar aqui na minha boca - o que meu corpo insiste, pelo o que meu coração se debate, pelo o que minha alma já foi rendida. Dá-me, por fim, constante e tenazmente o amor que um dia encontrei, mas que, ao mesmo tempo, em algum momento, me perdi.

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Maravilhoso clichê


É clichê porque existe uma razão para isso. É clichê porque é a mais pura verdade. Não há nada como um amor correspondido. Sim, amar e ser também amado. Mas não falo sobre corresponder um amor, simplesmente. Falo de como este pode - e no meu caso, é - além de nossas expectativas passadas quando se pensava no assunto. Ele não apenas corresponde meu amor, ele o demonstra involuntariamente a cada dia. Esse é o diferencial. Não é forçado, não é porque tem que ser feito dessa forma ou de outra para agradar, para se desculpar, para fazer o outro se sentir mais especial. Está nas ações que ele nem percebe que está transbordando amor. Está na maturidade do relacionamento para lidar com várias dificuldades, inclusive no simples ato de ceder, de se render e admitir. Admitir não só as falhas próprias ou os erros cometidos. Pois, no fim, o que se vê é a admissão, sim, do amor. Quando este acalenta, acalma, anima, persiste, se mantém. Mantém-se e se mostra presente, forte, persistente - ou quem sabe teimoso - mesmo quando se tem dúvida de sua paciência ou de seu limite com nossas fraquezas, abusos e crises individuais. Esse comprometimento de que vos falo é e não é voluntário. O é porque não há como obrigar o outro a amar. E não é porque, depois que foi cultivado o amor - isso, o verdadeiro e genuíno - quem é que vai dizer ao coração que esqueça, desista, é complicado, não dá certo? Não vai adiantar. O que adianta mesmo é a entrega, de ambos, ao confessar de fato o que já - ou há tempos - explode nos dois. Porque, quando se faz isso, se vive naquele maravilhoso clichê anteriormente mencionado, que não há quem o desminta, pois não há realmente nada como a reciprocidade de um amor. Não há felicidade e remédio para vida maior ou melhor que um amor correspondido - em todo e qualquer nível deste. Se você o tem, agradeça e mantenha-o por perto. Ainda que, como acontece comigo, alguns poucos quilômetros longe. Mas não é algo a se preocupar. Agora faltam apenas dois meses para que eu possa me enterrar novamente em seus braços e abraços. E esse é o motivo de minha reflexão, do meu sorriso bobo e um tanto bem reforçado de saudade. 

terça-feira, 24 de junho de 2014

Devidamente aninhada


Quando eu penso em nós dois, me vem sempre a ideia de estar aninhada em ti. Quando digo estar em teus braços, é estar em casa. E me refiro ao lar que o nosso amor fez surgir. Sim, é um ambiente só nosso, movido a abraços e mordiscadas, consolo e felicidade. Estar contigo é mais que sentir aquele imenso prazer quando se chega em casa depois de uma longa viagem. Porque, em casa, desejamos às vezes sair. Conhecer e respirar outros ares, explorar o mundo, se relacionar com diferentes pessoas e culturas. Não! Não é assim conosco. A verdade é que a saudade que sinto e o único anseio existente no meu íntimo se baseia naquela ideia de te ter por perto todos os momentos. E caminhar ao teu lado por qualquer lugar, contanto que estejamos juntos. Porque viver contigo é estar em casa, e quando se está em casa, o que mais queremos é o conforto e amor presente dia-a-dia a cada acordar e beijo de boa noite. Contigo, acabo ganhando bem mais que isso e por inteira culpa tua. Aquela culpa de propósito mesmo, qualquer ação como consequência de algo tão simples: A reciprocidade que envolve duas almas que se amam rende qualquer coração a permanecer ali, aninhado pelo sorriso, afago, perfume e olhar. Encanta e convence de tal forma que não há outra saída se não a mais bela e óbvia confissão. "Beijo, doce beijo". E é bem por aqui que vou me aninhar - em teu beijo, em teu tempero, no nosso amor.

sábado, 8 de fevereiro de 2014

Sobre caminhar perto e um tanto de saudade



Que importava a distância? Quatro mil ou um milhão de quilômetros são quase a mesma coisa. Para quem ama, acentua-se a saudade ainda que estejam sob o mesmo teto, mas em quartos separados. Oh, sim! Despedir um do outro a primeira vez foi complicado. Quanta melosidade, diriam ao saberem que a despedida consistia em ficar distantes apenas alguns passos, visto que o quarto ficava bem ao lado. Mas quando se ama, realmente se quer estar perto. E o perto aqui ganha outro significado. Perto. Perto é quando eu sinto sua respiração na minha nuca e ainda que antes eu imaginasse que não gostaria da sensação, vejo que minhas concepções desde o teu primeiro toque em mim embaralharam todas. Quando se ama parece que é aquele instante de nossa vida em que mordemos a língua. E não uma do outro em um acidente de um beijo incontrolável. Digo, quantas vezes disse eu que não passaria noites em claro jogando conversa fora com um namorado quando eu tivesse um? Ops! Antes mesmo de te nomear nesse cargo, estávamos nós tão encantados um com o outro que dormir era tedioso, era como que um roubo de vida. Um roubo de um tempo dedicado a quem se ama ou, nesse caso, a quem está começando a se entregar. E quão bom que é estar nessa entrega. Nessa confissão. Eu confesso que não é algo ruim morder a língua, desde que ao fazê-lo, seja (e é) algo feliz porque você é o motivo disso. É o motivo que me dá prazer em sentir teus beijos molhados no pescoço. Quando digo molhado não me refiro apenas a beijos. Sim, não queria usar o termo, mas eu me rendo. Lambidas! Que coisa boa, hein. Como é bom ter quem se ama e quem te ama tão perto ao ponto de sentir o hálito, o toque, o calor do corpo, o olhar carinhoso e envolvente - assim tão perto. Perto é quando te tenho de mãos dadas comigo a qualquer lugar que eu for. Aliás, agora não é onde eu quero ir. No momento, é onde queremos e vamos - juntos. E eu sei de uma coisa, meu amor. Definições de perto como algo físico existem enumerados nos dicionários. Eu bem o sei. Mas perto como poesia que me fazes inspirar, poucos o sentem. E se sinto, é porque o amor que floresce quando me lembro de nosso caminhar juntos reflete em mim um aroma de futuro bonito e tão desejado que ainda que eu imagine, sei que te ter comigo superará todas as minhas expectativas. 



Hoje faz um mês que fomos ao Centro Budista. Ou seja, um mês que me fizestes uma surpresa. E ela foi tão linda, tão boa. Como foi bom estar contigo naquele lugar. Quero voltar contigo um dia. Mas, enquanto isso... Enquanto contamos os dias para nosso reencontro, vou me contentar olhando cada foto que tiramos, tanto lá como nos outros lugares em que estivemos. Vou lembrar, relembrar e reviver de olhos fechados como foi incrível estar contigo e como eu te amo e quero continuar meus dias ao teu lado. 

terça-feira, 21 de maio de 2013

Nosso lago



Agora tenho mais um lugar para nos imaginar juntos. Nessa cidadezinha fria e bela, me atrevo a dizer que ela não se atreveria a ser tão bonita assim... Se você não estivesse presente nessa memória. Porque faltaria algo para completar a paisagem, meu vislumbre. Faltaria o olhar que encontraria o meu e contemplaria junto comigo o vento movimentar as águas de leve, em ondulações que me lembram o efeito suave do sopro. Sopro esse que quero imitá-lo contornando teu pescoço, me aproximando os lábios do teu ouvido num sussurrar agradável e confidente. Para confessar o que tu já sabes mas que necessito ainda dizer. Para me expressar em todos os sentidos o quanto esperei por esse toque, por teu perfume, por sua voz chamar meu nome... E até para me afogar - em teu sorriso, em teus olhos, em tua boca. E não precisaria dizer mais nada. Até porque se o silêncio resolvesse se fazer entender, ele não seria capaz de explicar. Por isso que ele se cala, teu abraço me embala e meu coração se rende. A melhor rendição de todas. Mãos para cima e o sentimento é todo teu - e faço questão de entregar-te. 

quinta-feira, 11 de abril de 2013

À meia noite


Há casos em que se decepcionar faz realmente bem a você. Porque finalmente se nota que expectativas e pré-julgamentos não passam dos significados dos mesmos. É bem ao pé da letra, e a realidade, a realidade é outra. Mais crua e difícil de descer quando se está encantado demais. Mas ainda bem, que sorte a minha, que uma hora ou outra, chega a meia noite e o encanto se vai.  E é satisfeita, convicta e sem receio de errar que não digo sequer "Até logo". 

domingo, 7 de abril de 2013

Da entrega


"Entrega a mim seus medos. Confesse o mais íntimo de ti. Não precisa maquiar verdades, nem se envergonhar pelo que se é. Entrega o que há em minhas mãos e deixe-me seguir ao seu lado, com suas preocupações extintas, porque te ajudarei com elas. Entrega os seus desejos, os seus sentimentos. Partilha deles comigo, deixando-os fluir naturalmente. Mas que não demore."
Entrega, porém, não deve ser vontade solitária, cobrança ou tampouco intimação. Entrega é algo gradativo, exige confiança e confiança leva tempo. Entrega subtende-se por algo espontâneo, voluntário, mas de certa forma conquistado. E essa conquista não está aberta gratuitamente a quem a quiser. Não basta querer. Não é uma via de mão única. É vivência recíproca, é se despir do que muitas vezes se quer esconder, é ao tentar se esconder, se mostrar. Pela verdade conhecida e reconhecida através da confiança conquistada por uma entrega. Entrega que prediz um pouco de fé. E um tanto de amor. Por si mesmo, pelo próximo, pelo todo. Amor que se entrega, amor que se confia, amor que tem o direito de existir, não só porque ele é amor. Mas porque soubemos fazê-lo presente e necessário nas constantes entregas em nossas vidas. Ainda que se demore algumas primaveras para se render, para confiar, para entregar-se por essência, de verdade e por completo. 

sexta-feira, 22 de março de 2013

Do meu eu-lírico


Cansei de imaginar contos e sentimentos expressos em palavras por meio de um alguém que não as sente. Cansei de conseguir facilmente criar uma literatura que de maneira suave arranca alguns sorrisos e reflexões de quem os lê. Reflexões de um alguém que finjo ser, e que se esconde em alguma frase, entrelinha ou imagem a essência do que se é, do que realmente sou, do que na verdade desejo falar. Ou sentir. Deveras é bem melhor um recheio de sensações a vivenciar do que compartilhar mais um "Era uma vez, em uma terra distante"... Porque não quero o que era, mas o que está por vir. Não quero longe, pode ser aqui. Não desejo a facilidade instantânea que fada madrinha pudesse me oferecer. Não requisitei um príncipe encantado num cavalo branco e muito menos que o sapatinho de cristal caiba no meu pé 39. Eu só anseio que ande, galope, corra, mas que chegue... Chegue logo esse tal de "amor". Não os narrados nas histórias de ninar, nos filmes, nas peças, nas músicas românticas. Nem que seja digno de uma novela mexicana. Mas apenas o amor que faça intensamente meu eu-lírico inspirar-se por inteiro de mim mesma. Confessando cruamente minhas verdades - postas em prosa ou rima, do amor que me combina. 

quarta-feira, 13 de março de 2013

Mais de mim


Ao despertar do sonho que você invadiu - com charme, de leve, me leve - olhei para o lado e busquei o encontro se realizar. Que pena que apenas avistei meu guardar-roupa escancarado, um coração desajeitado,  que você deixou ficar. Procurei as cartas trocadas, não havia. As anotações no diário, como acharia? Fora levado tudo, tudo que te trazia para mais próximo de mim. Só não pensaram que em minha vida, você não poderia ter chegado ao fim. E apesar de ter acordado da metade do sono, confirmei que meu coração ainda tinha dono. Aquele que após um café, realidade me alcançou, a me lembrar que na verdade nem tão perto assim você chegou - de ficar mais perto. Mas de certo, que até o momento não mudou. Você levou aquela parte de mim a que se chama inteiro. Sem saber, sem notar, sem ao menos me deixar. Me deixar ver, me deixar ter e me deixar ser mais de mim em ti.

domingo, 10 de março de 2013

Da surpresa


Se me permites dizer, houve um sopapo, algo que me paralisou ao te ver e embaralhou meus pensamentos. Faltou fala, sobrou riso e não me importaria se tivesse tido mais de nós.