Ela seguia lentamente, um passo de cada vez, com sacolas pendendo de um lado a outro. Uma era daquelas bolsas coloridas verticalmente, de feira. Cabelos brancos, baixinha, num sol de meio dia. Ela trazia no olhar baixo e arrastar de pés, uma paciência, uma confiança em algo, algo que eu identifiquei como uma fé - mesmo que eu não saiba sua definição para ela. Ela não tinha medo, ela não se preocupava com nada, além de caminhar - e não importava se demoraria ou não - para algum lugar que eu de fato fiquei curiosa de saber. Tinha uma concentração no seu eu que me focou nela desde quando a vi se aproximando para atravessar a pontezinha do canal perto do Banco do Brasil, ali duas paradas antes de onde eu descia. Quando ela solou o pé na ponte, um homem do outro lado que também ia atravessar e com um saco grande de rolos de papel higiênico, parou. Parou e observou. E quando ela ia terminando a travessia e ele ia seguindo, ainda olhando para trás, para ela, ele voltou. E ofereceu o braço, o respeito, a vista, uma segurança, para agora atravessar a via agitada num horário de pico. E ele não passou com ela na faixa, ele foi abrindo caminho, mas nessa hora não deu para eu ver os detalhes. E o sinal abriu, e eu olhei pro outro lado, para trás... Ela estava quase chegando na calçada, passando por dentre dois carros talvez estacionados no "acostamento". E o rapaz provavelmente continuou seu caminho com os papéis higiênicos e ela... Com suas sacolas coloridas - espelho de sua alma, daquela fé que um dia quero conhecer.
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