É uma condição existencial saciada apenas por meio do gole - ou vários dele. Pode ser sutil, mas pode ser também desesperador. Violento, irracional, biológico, selvagem. Demonstra uma necessidade básica, latente, urgente, explosiva. Quando se está em abstinência ou os intervalos dessa dose são maiores do que se é possível suportar, há efeitos colaterais alucinantes. A razão realmente já não existe mais, dá lugar à busca inquieta e incessante pelo sabor que lhe escorra à garganta gentilmente e na temperatura certa. Estar num deserto labiríntico como esse só pode levar qualquer um à loucura. É de se clamar para que caía pelo menos do céu algumas gotas, pingos ou flocos salpicados que expulsem sem compaixão alguma essa tirana agonia. E no momento que o delírio me fizer cair e silenciar o último som que me restaria... Que eu caia em teus braços! Porque assim, ainda posso eu te pedir por toda a sede existente em cada célula em mim: - Dá-me de beber, meu amor! Dá-me do teu próprio paladar aqui na minha boca - o que meu corpo insiste, pelo o que meu coração se debate, pelo o que minha alma já foi rendida. Dá-me, por fim, constante e tenazmente o amor que um dia encontrei, mas que, ao mesmo tempo, em algum momento, me perdi.